Inflexões Avenses

sábado, julho 24, 2010

Inflexões (publicadas a 15 de Julho)

Portagens/SCUT: Eis uma enorme trapalhada neste nosso país. Mais uma, mas esta roça o ridículo A inexistência de maioria absoluta obriga a negociar e a não conseguir fazer as coisas da maneira que se gostaria de fazer. Mas de uma maneira ou de outra isto é um filme e pêras. Primeiro portagens só no Norte e no Grande Porto, porquê? Agora decidiu-se avançar para as sete. Depois o chip, que acabou antes de ter nascido. Depois os métodos de pagamento. Que confusão. E os estrangeiros, como obrigá-los a pagar? Levantar o dispositivo numa área de serviço. Ridículo! Depois as isenções. Para umas o raio é 10 quilómetros da auto-estrada, para outras é 20. Porquê? Depois para alguns as 10 primeiras passagens são gratuitas. Não deveria ser ao contrário. Ao fim de 10 passagens, as seguintes baixavam de preço... Assim premeia-se quem as usa de vez em quando e não quem as usa sempre. Um exemplo, sou da Póvoa e trabalho na Póvoa e todos os fins-de-semana vou passear ao Porto ou a Viana. Boa, para passear não pago, mas para trabalhar vou ter de pagar, se tenho de usar 21 dias por mês a auto-estrada. Quando as portagens entrarem em vigor (será a 1 de Agosto?) então os pagamentos é que serão uma tamanha confusão. Estamos habituados e ouvir que os tribunais estão atolados de processos por falta de pagamento da conta do telemóvel, pois agora vamos ver os processos subirem em flecha por falta de pagamento de meia dúzia de euros de portagem. Enfim, aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Saramago: Sou católico e amante da obra de Saramago. Alguns leitores questionarão: que escândalo! Como ser católico e gostar dos livros de José Saramago? Está a ir contra o que diz a Igreja? A Igreja diz muita coisa, mas cada um deve pensar pela sua cabeça. Diz muita coisa acertada, mas também asneiras. E depois a Igreja é uma entidade abstracta, pois o que muitas vezes vemos é simplesmente opiniões pouco mais que pessoais. Ser católico e gostar de Saramago nada tem de contraditório se se souber ler Saramago. Leio Saramago como um excelente contador de estórias que reconstrói a realidade à luz das suas convicções. Só assim se pode ler com paixão livros como o Evangelho Segundo Jesus Cristo ou a Jangada de Pedra, ou até mesmo Caim (ainda não li). Li, gostei e não me senti violentado na minha fé como Cristão, nem tão pouco afectada a mesma fé. Basta, simplesmente, saber ler e, diga-se, separar a ficção da realidade, pelo menos, de acordo com a minha fé.

Facebook: Foi curioso notar que a minha adesão às redes sociais, nomeadamente, ao Facebook coincidiu com a reportagem que o EntreMargens publicou sobre o assunto. Matéria, diga-se, muito bem pegada e tratada jornalisticamente. Durante meses sempre vi com desconfiança esta exposição ao mundo global. Os receios – numa primeira fase – sobrepõem-se sempre aos atractivos. Contudo, estamos mesmos num mundo em que se não aderimos, ficamos de fora e pior que tudo, muitas vezes, ficamos para trás. Aderi e estou a gostar, com o cuidado sempre de evitar a viciação. Tudo se quer na dose certa. Mas permitiu “rever” e retomar o contacto com pessoas que gostamos mas que, por esta ou aquela razão, perdemos o rasto e, de repente, acabamos por reencontrar. Eis uma ferramenta fantástica...

Inflexões (publicadas a 9 de Junho)

Santo Tirso/Trofa: Santo Tirso ganhou. Ganhou um processo movido pela autarquia tirsense e pelo seu presidente, Castro Fernandes. Acredito até que tenha sido ponto de honra pessoal avançar com a queixa-crime contra o Estado português, acusando-o de ter cometido uma ilegalidade ao criar o concelho da Trofa, nomeadamente, ao não ter em conta, os prejuízos que tal decisão traria para o concelho “amputado”. Não ganhou o que queria, as centenas de milhões que reclamou logo no início, mas ganhou quase sete milhões e ganhou, sobretudo, politicamente. Neste caso quem perdeu foi o Estado e mais propriamente quem votou a criação do município trofense, nomeadamente o PSD e o líder de então, Marques Mendes. Consequências para estes, nenhumas, nem para a Trofa, apenas para o Estado, que também aqui é uma figura mais ou menos abstracta. Ou seja, o resultado prático é que virão mais sete milhões para Santo Tirso do erário público. Enfim, do que falamos é tão só um acto de Justiça, decidido pelos tribunais. Resolvido isto é hora de arregaçar as mangas e partir para o que realmente interessa e urge reclamar, ou seja, definir de uma vez os limites territoriais dos dois concelhos – para acabar com as cenas ridículas que todos os anos, por alturas do Natal, se vê na rotunda de acesso ao nó da A3 – e começar a unir esforços em causas comuns. Estamos até numa altura propícia para isso, já que as duas autarquias são lideradas pelo PS. Pela sua história e ainda pela intensa ligação que existe entre os concelhos é hora de se entenderem e terem uma acção concertada em diversas matérias. Por exemplo, a necessidade de concretizar as reclamadas ligações da nova variante da Trofa a Santo Tirso.

Sentença: Há dias em que se acredita na Justiça, há dias em que não se acredita. Quando vemos um tribunal absolver um caso de nítida tentativa de corrupção, perguntamos onde está a Justiça deste país. De que vale sermos honestos, quando os corruptos ficam, de uma maneira ou de outra, a ganhar. Há outros dias em que renasce a esperança na Justiça. Foi o que aconteceu recentemente no Tribunal de Santo Tirso ao absolver o ourives da Trofa que matou um dos assaltantes na sequência do assalto de que foi alvo a sua ourivesaria. Ficou provado que o proprietário agiu em legítima defesa. Fica o amargo de boca – para não dizer outra coisa – de saber que ainda andam a monte os autores do homicídio do nosso conterrâneo, Vítor Ferreira.

Galeria de Arte: Qualquer iniciativa que enobreça a Cultura deve ser salientada. Pelo que já li sobre a nova galeria de arte de Santo Tirso só posso ter uma boa opinião quanto ao projecto que conto conhecer um dia destes. Trata-se de um projecto arrojado e ousado numa cidade da periferia do Porto e sem grande vida cultural consolidada (tem alguns eventos marcantes, mas não um local e uma programação regular que marque o concelho e a região – oxalá a reabilitação do Cine-Teatro cubra esta necessidade), ainda para mais, saído da esfera privada e do sonho de duas pessoas. Bem hajam e boa sorte na sua promoção e dinamização algo que não se adivinha fácil, mas sendo certo que com persistência e as pessoas certas tudo se supera.

Inflexões (publicadas a 13 de Maio)

Rio Vizela: Foi com um misto de nostalgia e satisfação que vi a notícia de utilização das ruínas da Fábrica do Rio Vizela pela banda portuense Blind Zero. É caso para dizer: alguém lhe dê uso. Passo por ela todos os dias e ainda hoje a sua dimensão me causa admiração. Nunca a visitei e confesso que cresce a minha curiosidade. Confesso que tenho um certo fascínio por ruínas, sobretudo, ruínas industriais. Gosto sobretudo de fotografar paredes, corredores imensos, buracos em telhados, chaminés e vestígios de maquinaria. Em causa não há qualquer sentimento mais ou menos perverso de prazer em ver algo em ruínas. No fundo, tenho pena que o destino tenha sido esse. Prefiro pensar em todas as histórias, todas as pessoas que passaram e que viveram no meio daquelas paredes. Vidas inteiras se construíram ali, pessoas se conheceram, famílias ali se criaram, gerações cresceram e sobreviveram à custa do salário que dali conseguiam extrair. É sobretudo nostalgia. É claro que todos os avenses pensam: que destino se vai dar àquele colosso? Àquele e a outros mais na nossa terra. É algo que deve merecer reflexão por parte das forças vivas pois não é fácil, nos tempos que correm, decidir o que fazer a tão grandes espaços. Independentemente do que seja feito, só espero que estes marcos históricos não sejam, pura e simplesmente, riscados do mapa, como acontece vulgarmente. Também temos exemplos do contrário. No nosso concelho a revitalização da antiga Fábrica do Teles é disso exemplo, mas não só. Vejamos o Norte Shopping que perpetuou na sua estrutura o passado daquele local fazendo a sua decoração ao estilo fabril e conservando mesmo uma das suas máquinas. Outro exemplo que conheci recentemente é o Centro de Congressos de Aveiro, que merece uma visita. Toda a fachada de uma antiga fábrica foi preservado, mas o seu interior está dotado da mais recente tecnologia para um espaço do género. É claro que é um exagero pensar em algo do género para a Rio Vizela, mas interpretem, caros leitores, este escrito como uma pequena inflexão, fazendo jus ao nome desta coluna de opinião.

Futuro: Escrevo este texto minutos depois de ver o resultado das manifestações dos gregos contra as duras medidas de austeridade decidida pelo governo daquele país: três funcionários de um banco mortos, na sequência de um incêndio desencadeado pelos protestantes. Quanta irracionalidade. Culpados? Haverá? Talvez sim, talvez não. Serão os autores materiais do incêndio os culpados, ou serão todos os políticos e gente ligada ao poder que durante anos escondeu a realidade da situação económica do país aos seus concidadãos? E Portugal? Os nossos líderes dizem que o nosso país está longe de viver uma situação como a da Grécia, mas ouço também vozes a dizer que seremos a próxima Grécia. Eu prefiro acreditar nos nossos do que em especialistas estrangeiros que, porventura, poderão não conhecer a nossa realidade. É claro que quero acreditar, porque o cenário que traçam é menos pessimista. Mas a dúvida, a incerteza e a preocupação pairam no ar. Os portugueses que comecem a pensar que poderemos vir a enfrentar nova subida do IVA e, quem sabe, medidas mais drásticas, como o fim do 14º mês ou o adiamento da idade da reforma. É duro e algo em que não queremos pensar. É por isso que digo que se queremos manter os direitos que temos (e já não são muitos) todos temos de trabalhar para isso. É hora de arregaçar as mãos e não de preguiçar. Se todos fizermos mais um esforço em dar mais um pouco de nós pelo bem comum, é Portugal que ganha, somos todos nós que ganhamos.

Update

Desde 15 de Abril que não actualizo este espaço. É muito tempo. Demasiado tempo. Hoje proponho regularizar a situação e publicar os 3 textos Inflexões produzidos desde então.
A quem visita este espaço um sincero pedido de desculpas.