Inflexões Avenses

sábado, fevereiro 20, 2010

Inflexões (publicadas a 28 de Janeiro)

Nota prévia: a publicação deste texto com quase um mês de atraso pode causar estranheza em inúmeros visitantes, mas a vida nem sempre se compadece com actualizações de blogues. Aos meus seguidores um pedido de desculpas.

Vítor Gonçalves: Não me sentiria bem comigo próprio se não iniciasse este texto com a referência ao nosso conterrâneo avense (ainda que por adopção) barbaramente assassinado no passado dia 17 de Dezembro. Não se pode dizer que tivesse um relacionamento com ele. Fui apenas várias vezes seu cliente. Toda a vila ficou em choque com o sucedido e com a brutalidade com que foi cometido. As imagens das câmaras de videovigilância percorrem repetidamente a minha consciência. O desabafo é natural: ao ponto que isto chegou! E isto é o que chega ao conhecimento público e vai até às televisões. Mas e o assalto à pessoa, o roubo do carro daquele vizinho, o assalto à residência daquele conhecido. Isto é o dia-a-dia na nossa terra. Nunca como agora, penso eu, houve um sentimento tão grande de insegurança nas Aves. Nem mesmo quando lutamos pela criação de um quartel da GNR na vila. Acredito que a onda de criminalidade tem muito a ver com a crise que grassa na nossa região. O desespero pode levar pessoas a roubar ou a assaltar, mas não há desespero que possa justificar o acto de matar. Se no pequeno delito, a impunidade é quase sempre regra, não quero acreditar que o mesmo se passe com a criminalidade violenta. O que é certo é que mais de um mês se passou sobre o assassinato do Vítor Gonçalves e nada se ouviu sobre detenções. Uma palavra para a coragem da sua esposa que logo após o funeral do marido reabriu a ourivesaria.

Haiti: Em tempos de catástrofe tudo relativizamos. Como comparar a morte de milhares de pessoas aos nossos problemas do dia-a-dia. É impossível. É nestas alturas que devemos dar graças a Deus por termos o que temos. É nestas alturas que percebemos que os milagres acontecem. É um milagre ver alguém soterrado durante oito dias e ao ser libertado cantar e agradecer a Deus por ter sido salvo. Para reflectir...

Referendo: Por estes dias assistimos no nosso Parlamento à aprovação de uma norma que visa permitir o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. No mesmo dia, uma petição com mais de 70 mil assinaturas para realização de um referendo sobre a matéria foi rejeitada. Desta vez, ao contrário da questão do aborto, a maioria dos nossos deputados acharam que estavam legitimados para decidir. Formalmente até estavam, mas ignorar um pedido de 70 mil pessoas evidencia as fragilidades da nossa democracia. Os partidos – tal como ainda recentemente ouvi e escrevi – no seu modelo actual, estão esgotados. A figura da petição perde sentido, bem como a do referendo. Mas este tema concreto, estou certo, ainda vai fazer correr muita tinta.

PT call center
: Na edição de 31 de Dezembro a revista “Vida Económica” titulava numa das suas notícias: “Call center da PT em Santo Tirso só criou 25% dos empregos prometidos”. Com o recrutamente iniciado em meados do ano passado, até agora foram ocupados 300 postos de trabalho, dos 1200 anunciados e usados até como tema de propaganda eleitoral nacional e local. Afinal, parece não haver no concelho desempregados qualificados para as funções exigidas na PT. Só isto já merece profunda reflexão. Na notícia, a PT aponta “um longo prazo” para ocupar os 1200 postos de trabalho, ou seja, atira para as calendas o número anunciado com pompa e circunstância. Sem pessoas em Santo Tirso, a PT equaciona recrutar nos concelhos vizinhos. Que seja, abra-se essa possibilidade.