Inflexões Avenses

quinta-feira, agosto 12, 2010

Inflexões publicadas hoje, 12 de Agosto

Incêndios: Já desde 2005 que não assistíamos a um Verão assim. Os últimos anos – apresar de registarem vagas de calor – têm registado temperaturas não tão altas e com registos de tempos de chuva que este ano se tem mantido longe. Estão assim criadas as condições para que sejamos fustigados pelos incêndios, com dezenas de ocorrências e cenas de pânico das populações ameaçadas pelas chamas. Mesmo na nossa região, há zonas que têm escapado às chamas nos últimos anos, mas que neste momento se encontram mortas e em cinzas. É o caso do grande fogo na zona da Barca, em Vila das Aves, que queimou uma grande mancha florestal na nossa vila que, reconheçamos, tem já poucas zonas de “monte”, como apelidamos no nosso quotidiano. Apesar de residir fora das Aves de minha casa tenho uma noção exacta da dimensão desse incêndio e do impacto ambiental na nossa vila. E estará o leitor a perguntar. “Que dramatização”! Até pode ser, mas é do nosso património que estamos a falar. E falo deste porque nos é próximo, mas qualquer um merece atenção. Escrevo a ouvir que a Peneda-Gerês está a arder. Dias depois de ter votado neste “nosso” parque como uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, é doloroso perceber que há um património sem preço a ser destruído. Causas naturais, descuido, negligência, acção criminosa, são várias as causas, mas independentemente disso há neste momento milhares de homens, grande parte voluntários, a deixar o conforto de nossa casa, um café numa esplanada ou mesmo umas férias na praia para combater este flagelo. Mais que muitos outras pessoas, alvo de homenagens, são estes homens anónimos que merecem o nosso reconhecimento. Obrigado e coragem.

Justiça: Há poucas semanas escrevi que felizmente há dias em que acreditamos na Justiça. Infelizmente há muitos outros, infelizmente muitos mais, em que não acreditamos. Basta ver os casos Freeport e Casa Pia. Este último leva seis anos de julgamento e independentemente da sentença – seja ela conhecida quando for – absolvendo ou condenando vai provocar novos processos, recursos, pedidos de indemnização, etc. Oxalá esteja enganado, mas acredito que o resto da minha vida vou vivê-la a ouvir falar do caso Casa Pia e não acredito que a Justiça fique muito bem vista neste caso. Com um arquivamento lançado e um fim anunciado fica a guerra intestina interna dentro do Ministério Público, uma entidade que devia estar acima de qualquer suspeita. Aqui há claramente influências políticas diversas ora para prejudicar Sócrates e o PS, ora para o inocentar.

Verão: Escrevo estas linhas a ansiar pelas férias que nunca chegam. Depois de algum tempo sem conseguir ou poder gozar férias dignas desse nome, finalmente consigo-o fazer e anseio por elas, como qualquer trabalhador depois de um ano de dedicação à sua profissão e à sua empresa. Muitos vão de férias e não o merecem, muitos também mereceriam e gostariam de ir, mas não vão porque não podem. Vai para esses o meu pensamento e a palavra de alento de que se houver algum esforço pessoal e empenhamento é possível dar-se a volta por cima às dificuldades. Não podemos é ficar à sombra da bananeira e desperdiçar oportunidades. Não há muitas e desperdiçar alguma pode ser fatal. Neste tempo de Verão... boas férias.

sábado, julho 24, 2010

Inflexões (publicadas a 15 de Julho)

Portagens/SCUT: Eis uma enorme trapalhada neste nosso país. Mais uma, mas esta roça o ridículo A inexistência de maioria absoluta obriga a negociar e a não conseguir fazer as coisas da maneira que se gostaria de fazer. Mas de uma maneira ou de outra isto é um filme e pêras. Primeiro portagens só no Norte e no Grande Porto, porquê? Agora decidiu-se avançar para as sete. Depois o chip, que acabou antes de ter nascido. Depois os métodos de pagamento. Que confusão. E os estrangeiros, como obrigá-los a pagar? Levantar o dispositivo numa área de serviço. Ridículo! Depois as isenções. Para umas o raio é 10 quilómetros da auto-estrada, para outras é 20. Porquê? Depois para alguns as 10 primeiras passagens são gratuitas. Não deveria ser ao contrário. Ao fim de 10 passagens, as seguintes baixavam de preço... Assim premeia-se quem as usa de vez em quando e não quem as usa sempre. Um exemplo, sou da Póvoa e trabalho na Póvoa e todos os fins-de-semana vou passear ao Porto ou a Viana. Boa, para passear não pago, mas para trabalhar vou ter de pagar, se tenho de usar 21 dias por mês a auto-estrada. Quando as portagens entrarem em vigor (será a 1 de Agosto?) então os pagamentos é que serão uma tamanha confusão. Estamos habituados e ouvir que os tribunais estão atolados de processos por falta de pagamento da conta do telemóvel, pois agora vamos ver os processos subirem em flecha por falta de pagamento de meia dúzia de euros de portagem. Enfim, aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Saramago: Sou católico e amante da obra de Saramago. Alguns leitores questionarão: que escândalo! Como ser católico e gostar dos livros de José Saramago? Está a ir contra o que diz a Igreja? A Igreja diz muita coisa, mas cada um deve pensar pela sua cabeça. Diz muita coisa acertada, mas também asneiras. E depois a Igreja é uma entidade abstracta, pois o que muitas vezes vemos é simplesmente opiniões pouco mais que pessoais. Ser católico e gostar de Saramago nada tem de contraditório se se souber ler Saramago. Leio Saramago como um excelente contador de estórias que reconstrói a realidade à luz das suas convicções. Só assim se pode ler com paixão livros como o Evangelho Segundo Jesus Cristo ou a Jangada de Pedra, ou até mesmo Caim (ainda não li). Li, gostei e não me senti violentado na minha fé como Cristão, nem tão pouco afectada a mesma fé. Basta, simplesmente, saber ler e, diga-se, separar a ficção da realidade, pelo menos, de acordo com a minha fé.

Facebook: Foi curioso notar que a minha adesão às redes sociais, nomeadamente, ao Facebook coincidiu com a reportagem que o EntreMargens publicou sobre o assunto. Matéria, diga-se, muito bem pegada e tratada jornalisticamente. Durante meses sempre vi com desconfiança esta exposição ao mundo global. Os receios – numa primeira fase – sobrepõem-se sempre aos atractivos. Contudo, estamos mesmos num mundo em que se não aderimos, ficamos de fora e pior que tudo, muitas vezes, ficamos para trás. Aderi e estou a gostar, com o cuidado sempre de evitar a viciação. Tudo se quer na dose certa. Mas permitiu “rever” e retomar o contacto com pessoas que gostamos mas que, por esta ou aquela razão, perdemos o rasto e, de repente, acabamos por reencontrar. Eis uma ferramenta fantástica...

Inflexões (publicadas a 9 de Junho)

Santo Tirso/Trofa: Santo Tirso ganhou. Ganhou um processo movido pela autarquia tirsense e pelo seu presidente, Castro Fernandes. Acredito até que tenha sido ponto de honra pessoal avançar com a queixa-crime contra o Estado português, acusando-o de ter cometido uma ilegalidade ao criar o concelho da Trofa, nomeadamente, ao não ter em conta, os prejuízos que tal decisão traria para o concelho “amputado”. Não ganhou o que queria, as centenas de milhões que reclamou logo no início, mas ganhou quase sete milhões e ganhou, sobretudo, politicamente. Neste caso quem perdeu foi o Estado e mais propriamente quem votou a criação do município trofense, nomeadamente o PSD e o líder de então, Marques Mendes. Consequências para estes, nenhumas, nem para a Trofa, apenas para o Estado, que também aqui é uma figura mais ou menos abstracta. Ou seja, o resultado prático é que virão mais sete milhões para Santo Tirso do erário público. Enfim, do que falamos é tão só um acto de Justiça, decidido pelos tribunais. Resolvido isto é hora de arregaçar as mangas e partir para o que realmente interessa e urge reclamar, ou seja, definir de uma vez os limites territoriais dos dois concelhos – para acabar com as cenas ridículas que todos os anos, por alturas do Natal, se vê na rotunda de acesso ao nó da A3 – e começar a unir esforços em causas comuns. Estamos até numa altura propícia para isso, já que as duas autarquias são lideradas pelo PS. Pela sua história e ainda pela intensa ligação que existe entre os concelhos é hora de se entenderem e terem uma acção concertada em diversas matérias. Por exemplo, a necessidade de concretizar as reclamadas ligações da nova variante da Trofa a Santo Tirso.

Sentença: Há dias em que se acredita na Justiça, há dias em que não se acredita. Quando vemos um tribunal absolver um caso de nítida tentativa de corrupção, perguntamos onde está a Justiça deste país. De que vale sermos honestos, quando os corruptos ficam, de uma maneira ou de outra, a ganhar. Há outros dias em que renasce a esperança na Justiça. Foi o que aconteceu recentemente no Tribunal de Santo Tirso ao absolver o ourives da Trofa que matou um dos assaltantes na sequência do assalto de que foi alvo a sua ourivesaria. Ficou provado que o proprietário agiu em legítima defesa. Fica o amargo de boca – para não dizer outra coisa – de saber que ainda andam a monte os autores do homicídio do nosso conterrâneo, Vítor Ferreira.

Galeria de Arte: Qualquer iniciativa que enobreça a Cultura deve ser salientada. Pelo que já li sobre a nova galeria de arte de Santo Tirso só posso ter uma boa opinião quanto ao projecto que conto conhecer um dia destes. Trata-se de um projecto arrojado e ousado numa cidade da periferia do Porto e sem grande vida cultural consolidada (tem alguns eventos marcantes, mas não um local e uma programação regular que marque o concelho e a região – oxalá a reabilitação do Cine-Teatro cubra esta necessidade), ainda para mais, saído da esfera privada e do sonho de duas pessoas. Bem hajam e boa sorte na sua promoção e dinamização algo que não se adivinha fácil, mas sendo certo que com persistência e as pessoas certas tudo se supera.

Inflexões (publicadas a 13 de Maio)

Rio Vizela: Foi com um misto de nostalgia e satisfação que vi a notícia de utilização das ruínas da Fábrica do Rio Vizela pela banda portuense Blind Zero. É caso para dizer: alguém lhe dê uso. Passo por ela todos os dias e ainda hoje a sua dimensão me causa admiração. Nunca a visitei e confesso que cresce a minha curiosidade. Confesso que tenho um certo fascínio por ruínas, sobretudo, ruínas industriais. Gosto sobretudo de fotografar paredes, corredores imensos, buracos em telhados, chaminés e vestígios de maquinaria. Em causa não há qualquer sentimento mais ou menos perverso de prazer em ver algo em ruínas. No fundo, tenho pena que o destino tenha sido esse. Prefiro pensar em todas as histórias, todas as pessoas que passaram e que viveram no meio daquelas paredes. Vidas inteiras se construíram ali, pessoas se conheceram, famílias ali se criaram, gerações cresceram e sobreviveram à custa do salário que dali conseguiam extrair. É sobretudo nostalgia. É claro que todos os avenses pensam: que destino se vai dar àquele colosso? Àquele e a outros mais na nossa terra. É algo que deve merecer reflexão por parte das forças vivas pois não é fácil, nos tempos que correm, decidir o que fazer a tão grandes espaços. Independentemente do que seja feito, só espero que estes marcos históricos não sejam, pura e simplesmente, riscados do mapa, como acontece vulgarmente. Também temos exemplos do contrário. No nosso concelho a revitalização da antiga Fábrica do Teles é disso exemplo, mas não só. Vejamos o Norte Shopping que perpetuou na sua estrutura o passado daquele local fazendo a sua decoração ao estilo fabril e conservando mesmo uma das suas máquinas. Outro exemplo que conheci recentemente é o Centro de Congressos de Aveiro, que merece uma visita. Toda a fachada de uma antiga fábrica foi preservado, mas o seu interior está dotado da mais recente tecnologia para um espaço do género. É claro que é um exagero pensar em algo do género para a Rio Vizela, mas interpretem, caros leitores, este escrito como uma pequena inflexão, fazendo jus ao nome desta coluna de opinião.

Futuro: Escrevo este texto minutos depois de ver o resultado das manifestações dos gregos contra as duras medidas de austeridade decidida pelo governo daquele país: três funcionários de um banco mortos, na sequência de um incêndio desencadeado pelos protestantes. Quanta irracionalidade. Culpados? Haverá? Talvez sim, talvez não. Serão os autores materiais do incêndio os culpados, ou serão todos os políticos e gente ligada ao poder que durante anos escondeu a realidade da situação económica do país aos seus concidadãos? E Portugal? Os nossos líderes dizem que o nosso país está longe de viver uma situação como a da Grécia, mas ouço também vozes a dizer que seremos a próxima Grécia. Eu prefiro acreditar nos nossos do que em especialistas estrangeiros que, porventura, poderão não conhecer a nossa realidade. É claro que quero acreditar, porque o cenário que traçam é menos pessimista. Mas a dúvida, a incerteza e a preocupação pairam no ar. Os portugueses que comecem a pensar que poderemos vir a enfrentar nova subida do IVA e, quem sabe, medidas mais drásticas, como o fim do 14º mês ou o adiamento da idade da reforma. É duro e algo em que não queremos pensar. É por isso que digo que se queremos manter os direitos que temos (e já não são muitos) todos temos de trabalhar para isso. É hora de arregaçar as mãos e não de preguiçar. Se todos fizermos mais um esforço em dar mais um pouco de nós pelo bem comum, é Portugal que ganha, somos todos nós que ganhamos.

Update

Desde 15 de Abril que não actualizo este espaço. É muito tempo. Demasiado tempo. Hoje proponho regularizar a situação e publicar os 3 textos Inflexões produzidos desde então.
A quem visita este espaço um sincero pedido de desculpas.

quinta-feira, abril 15, 2010

Inflexões (publicadas hoje, 15 Abril)

Sinal dos tempos: O Entre Margens, no Especial que dedicou aos 55 anos da elevação de Aves à categoria de vila, promoveu um inquérito em que perguntou a alguns avenses o que de melhor e pior tem a nossa vila. As respostas foram variadas, o que prova que a vila tem muito de bom e muito de mau. Gosto de pensar que tem muito mais de bom do que de mau. Temos de ter consciência de que tal inquérito nada tem a ver com uma sondagem, mas registei as pessoas que colocam supermercados e hipermercados como o melhor que a vila tem. É simplesmente... um sinal dos tempos.

Melhor e pior: Naturalmente ao sermos abordados para responder a algo do género, as respostas apresentadas são as naturais e óbvias. Mas reflectindo um pouco no assunto, atrever-me-ia a dar a mesma resposta às duas questões. Confuso? Imagino que sim. Após alguma reflexão (ou inflexão para fazer jus ao nome desta crónica) diria que o que a Vila das Aves tem de melhor e pior são as pessoas. Para o bem e para o mal são as pessoas, são os avenses que fazem o bom e o mau na nossa terra. O que ela tem de bom – e reitero – tem muito, deve-o aos avenses e aos amigos de Vila das Aves. Também o que de menos bom a nossa vila tem é responsabilidade de muitos dos seus habitantes. Naturalmente há factores externos que poderão contribuir, mas não há dúvidas de que a responsabilidade maior é daqueles que fazem o dia-a-dia nesta terra. Um grupo, uma escola, uma instituição ou uma empresa não existem por si só. Se elas são boas, às pessoas que nelas estão inseridas tal se deve. Também se algo não funciona bem aqui e ali, deve-se sobretudo às pessoas. Isto para sintetizar que o futuro e que a construção de uma terra melhor é uma responsabilidade de todos e de cada um. Olhemos os grandes homens e mulheres do passado desta terra para serem exemplo para nós a fim de ajudarmos a fazer crescer esta nossa amada ‘Vila dos Aves’.

Pressões e conspirações: Já neste espaço escrevi que o nosso país vive anestesiado pelas polémicas envolvendo a Justiça, a Política e a Comunicação Social. Todos os dias ouvimos denúncias de conspirações, pressões e promiscuidades envolvendo protagonistas destas três áreas fundamentais num Estado de Direito Democrático. São agentes da Justiça a passarem informações para jornalistas e jornalistas sem pejo em violar as regras da Justiça divulgando informação indevidamente, para ter notícias sensacionalistas e vencer a concorrência. São agentes da Justiça a serem denunciados como agindo em função de uma agenda ou interesse político. Depois temos os políticos corruptos que usam as funções públicas e o poder para fins menos dignos. Os que hoje denunciam, amanhã são denunciados. É lamentável este estado de coisas, numa altura em que o país deveria estar unido a vencer a crise económica e o drama social de meio milhão de portugueses desempregados e das suas famílias. É o que temos e, porventura, em coerência com o que escrevi nos items anteriores, o que merecemos.

quinta-feira, março 25, 2010

Inflexões (publicadas hoje, 25 de Março)


(Des)emprego: Com mais de meio milhão de portugueses sem trabalho, o desemprego é talvez dos maiores problemas que o nosso país enfrenta. É um número impressionante. Mais que uma estatística estamos perante pessoas, perante famílias que estão a viver dificuldades e, no mínimo uma situação, desconfortável. Só quem por lá passou pode explicar, o sentimento que se tem e que se vai acumulando dia a após dia à procura de uma oportunidade. Este – acredito – será o sentimento da maioria dos desempregados. Lutar diariamente por uma nova oportunidade. Digo maioria e não todos, porque sabemos que não é assim. Esta semana ouvi um ministro português dizer que tem de partir do princípio que todos os desempregados querem trabalhar. Infelizmente não é assim. Há muitos desempregados que não querem trabalhar e que enquanto durar o fundo de desemprego e depois o fundo social de desemprego não se preocupam em deixar essa situação. Falo dessas pessoas como portugueses parasitas. Não me refiro a pessoas com 50 e mais anos, com baixa escolaridade que por muito que se esforcem não encontram uma porta aberta para os acolher no mundo laboral. Refiro-me a gente mais nova que se acomoda. É, por isso, com estupefação que ouço críticas a medidas do Governo que pretendem obrigar as pessoas a aceitar um emprego desde que o salário proposto seja 10% superior ao valor do subsídio de desemprego. Penso ser perfeitamente razoável. E lamento se tal fere a sensibilidade de algumas pessoas.

Rejeição e súplica: Abrindo outro item, mas mantendo-me no tema, não compreendo a ‘lata’ de algumas pessoas – desempregados – que recebem propostas de trabalho e recusam, inventando esta ou aquela desculpa. Não tenho transporte, tenho este problema de saúde que me impede de fazer esse trabalho, sou alérgico a isto ou aquilo. Atrevo-me a dizer que tem é alergia ao trabalho. Mas o mais irónico é ver as mesmas pessoas, meses mais tarde, a bater à mesma porta e a suplicar por um emprego. Nenhum empregador, com bom senso, dá trabalho a uma pessoa destas. E com razão. É por isso que rotulo estas pessoas de parasitas do Estado e da sociedade. Muitas delas até se vangloriam e chamam de ‘burro’ a quem se esforça por trabalhar, mesmo sem ganhar muito mais. Vão do subsídio de desemprego, ao subsídio social e acabam depois no rendimento social de inserção. Que ninguém pense, no entanto, que sou contra estas medidas de apoio. Seria hipócrita se o afirmasse pois já beneficiei delas. Devem é ser entendidas como algo provisório e que importa terminar quanto antes, regressando à vida activa e à colaboração e contribuição para o bem comum. Resumindo defendo as medidas que, de certa forma, obrigam as pessoas a procurar emprego e a aceitá-lo, desde que seja de valor igual ou superior ao do subsídio. Do mesmo modo, determinados desempregados com certas qualificações poderiam e deveriam ser orientados para realizar determinado trabalho social nas autarquias, em instituições sociais, recebendo em contrapartida uma bonificação no subsídio. Dessa forma atacaríamos o parasitismo social que por aí grassa.

Nota: Imagem retirada do site www.custojusto.pt

domingo, fevereiro 28, 2010

Inflexões (publicadas a 25 de Fevereiro)

O essencial e o acessório: Portugal vive anestesiado. Diria mesmo sedado, perante o que tem vindo diariamente à praça pública. Os problemas de desemprego, os problemas económicos, a dívida pública, a credibilidade externa do nosso país ou a falta dela, a criminalidade... São muitos os problemas que Portugal enfrenta mas estão relegados para segundo ou mesmo terceiro planos. O que está no centro das atenções: escutas. Escutas telefónicas que um juiz diz que são graves, mas que afirma nada ter de relevante. Temos violações do segredo de justiça que existe apenas no papel. Costuma dizer-se que o fruto proibido é o mais apetecido, por isso se o segredo deixar de ser segredo talvez ninguém o procure. Sei que este escrito é uma divagação mais ou menos inconsequente, mas vai ao ritmo da anestesia e do sedativo que todos padecemos. Indo ao cerne da questão, há muita gente a duvidar do carácter e da conduta de José Sócrates como primeiro-ministro. Poderá haver inúmeras matérias em que discordo dele e das decisões que tomou. Em inúmeros aspectos foi mesmo uma desilusão. Mas, sinceramente, olho para o lado e nada vejo capaz de ser uma alternativa. Mesmo assim, poderíamos ter o Presidente da República a dizer basta e a demitir Sócrates ou a dissolver a Assembleia da República. Más há aspectos legais que condicionam uma atitude de força de Cavaco Silva, refém do calendário eleitoral passado e do que brevemente irá iniciar-se. A corrida a Belém está longe de ser um passeio para Cavaco Silva e qualquer decisão mais ousada poderá influenciar o voto dos portugueses nas presidenciais. Olhando para o lado vemos o PSD ainda a mais de um mês de distância de ter a casa arrumada e a ver vamos se fica mesmo arrumada e se o partido fica preparado para disputar eleições. Quanto aos restantes partidos à esquerda e à direita, pouco ou nada de novo e diferente poderemos esperar. O problema é que esta situação desgasta e poderá chegar a uma posição de não retorno e poderemos ter mesmo de ir para eleições. E aí serão mais uns meses de folhetim político e de inactividade governativa. Estamos reféns de uma classe política medíocre, da esquerda à direita, que pensa apenas nos seus interesses e não nos do país. Face à situação económica e social do país necessitávamos de um pacto de regime e não de querelas e disputas mesquinhas. Infelizmente é o que eu penso e acredito que o mesmo pensam muitos outros portugueses, mas nós não temos voz.

Fases: No nosso concelho de Santo Tirso e em muitos outros por esse país fora, quase tudo se faz por fases. Quase todas as obras têm uma, duas e até três fases. Lança-se uma ideia, anuncia-se a ideia e diz-se: “em breve vai nascer isto” e passam-se anos. Depois lança-se o projecto e anuncia-se o projecto e diz-se: “em breve vai nascer isto” e passam-se anos. De seguida lança-se o concurso público e anuncia-se o concurso e diz-se: “em breve vai nascer isto”. Quando o processo parece estar à beira do fim anuncia-se o arranque da obra e diz-se: “em breve vai nascer isto” e passam-se mais uns anos. Mais tarde anuncia-se a conclusão da primeira fase da obra e anuncia-se a segunda e diz-se: “em breve vai nascer isto” e passa mais algum tempo até que finalmente seja inaugurada e posta ao serviço dos munícipes. A esta altura o leitor deverá estar a pensar: “que exagero”. Poderá até ser, poderá até haver vários casos em que o processo foi muito mais rápido. Mas posso referir alguns casos em que aconteceu exactamente como descrevi: o Centro Cultural de Vila das Aves será um bom exemplo. O parque da quinta do Verdeal é outro e esse ainda nem em obra entrou. A avenida de Paradela até Cense é outro caso. Antes das eleições, quando foi anunciada a obra e a empreitada arrancou acreditei que por esta altura já haveria alcatrão ou paralelo nessa importante artéria, mas não, apenas está feita a primeira fase. É assim...

sábado, fevereiro 20, 2010

Inflexões (publicadas a 28 de Janeiro)

Nota prévia: a publicação deste texto com quase um mês de atraso pode causar estranheza em inúmeros visitantes, mas a vida nem sempre se compadece com actualizações de blogues. Aos meus seguidores um pedido de desculpas.

Vítor Gonçalves: Não me sentiria bem comigo próprio se não iniciasse este texto com a referência ao nosso conterrâneo avense (ainda que por adopção) barbaramente assassinado no passado dia 17 de Dezembro. Não se pode dizer que tivesse um relacionamento com ele. Fui apenas várias vezes seu cliente. Toda a vila ficou em choque com o sucedido e com a brutalidade com que foi cometido. As imagens das câmaras de videovigilância percorrem repetidamente a minha consciência. O desabafo é natural: ao ponto que isto chegou! E isto é o que chega ao conhecimento público e vai até às televisões. Mas e o assalto à pessoa, o roubo do carro daquele vizinho, o assalto à residência daquele conhecido. Isto é o dia-a-dia na nossa terra. Nunca como agora, penso eu, houve um sentimento tão grande de insegurança nas Aves. Nem mesmo quando lutamos pela criação de um quartel da GNR na vila. Acredito que a onda de criminalidade tem muito a ver com a crise que grassa na nossa região. O desespero pode levar pessoas a roubar ou a assaltar, mas não há desespero que possa justificar o acto de matar. Se no pequeno delito, a impunidade é quase sempre regra, não quero acreditar que o mesmo se passe com a criminalidade violenta. O que é certo é que mais de um mês se passou sobre o assassinato do Vítor Gonçalves e nada se ouviu sobre detenções. Uma palavra para a coragem da sua esposa que logo após o funeral do marido reabriu a ourivesaria.

Haiti: Em tempos de catástrofe tudo relativizamos. Como comparar a morte de milhares de pessoas aos nossos problemas do dia-a-dia. É impossível. É nestas alturas que devemos dar graças a Deus por termos o que temos. É nestas alturas que percebemos que os milagres acontecem. É um milagre ver alguém soterrado durante oito dias e ao ser libertado cantar e agradecer a Deus por ter sido salvo. Para reflectir...

Referendo: Por estes dias assistimos no nosso Parlamento à aprovação de uma norma que visa permitir o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. No mesmo dia, uma petição com mais de 70 mil assinaturas para realização de um referendo sobre a matéria foi rejeitada. Desta vez, ao contrário da questão do aborto, a maioria dos nossos deputados acharam que estavam legitimados para decidir. Formalmente até estavam, mas ignorar um pedido de 70 mil pessoas evidencia as fragilidades da nossa democracia. Os partidos – tal como ainda recentemente ouvi e escrevi – no seu modelo actual, estão esgotados. A figura da petição perde sentido, bem como a do referendo. Mas este tema concreto, estou certo, ainda vai fazer correr muita tinta.

PT call center
: Na edição de 31 de Dezembro a revista “Vida Económica” titulava numa das suas notícias: “Call center da PT em Santo Tirso só criou 25% dos empregos prometidos”. Com o recrutamente iniciado em meados do ano passado, até agora foram ocupados 300 postos de trabalho, dos 1200 anunciados e usados até como tema de propaganda eleitoral nacional e local. Afinal, parece não haver no concelho desempregados qualificados para as funções exigidas na PT. Só isto já merece profunda reflexão. Na notícia, a PT aponta “um longo prazo” para ocupar os 1200 postos de trabalho, ou seja, atira para as calendas o número anunciado com pompa e circunstância. Sem pessoas em Santo Tirso, a PT equaciona recrutar nos concelhos vizinhos. Que seja, abra-se essa possibilidade.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Inflexões (publicadas hoje, 9 Dezembro)

Balanço 2009: Já em pleno mês de Dezembro, deve ser a última vez, este ano, que passo pelo convívio dos leitores do Entre Margens. É hora, por isso, de fazer uma espécie de balanço de mais um ano. A primeira coisa que me apraz escrever é que 2009 não é apenas mais um ano. Foi marcante a nível global (crise económica mundial), nacional (crise, três eleições, casos e polémicas que abalam o regime) e local (eleições, inaugurações, polémicas, mas também muita coisa boa que felizmente se vem fazendo). A nível pessoal foi também um ano marcante. Num cenário de plena crise consegui superar a situação de desemprego com que iniciei 2009. Estou numa área completamente nova, mas que tem sido muito interessante e um desafio também pessoal. Tenho de agradecer a todos os que me ajudaram a dar a volta por cima a uma situação difícil e a quem me permitiu uma nova oportunidade profissional. Agora também posso dizer que apesar dos muitos conhecimentos, relacionamentos e até algumas promessas acabaram por dar em nada, durante cerca de um ano, o que deixou também atrás de si um rasto de frustracção. Apesar dos elogios, das palavras simpáticas, foi preciso esperar quase um ano por uma oportunidade. Sei que os tempos são dificeis e continuamos diariamente a ouvir falar em despedimento e na subida da taxa de desemprego, já superior a 10% e a afectar mais de meio milhão de portugueses. É por isso que hoje sinto-me previligiado simplesmente por estar a trabalhar. A todos os que estão hoje sem trabalho, desejos de boa sorte e o apelo para não baixarem os braços. Agarrem a primeira oportunidade, mesmo que isso não traga muito mais que o subsídio de desemprego. É muito mais gratificante sermos úteis à sociedade, sentirmo-nos integrados e parte de um todo, do sentirmo-nos à margem, ainda que involuntariamente.

Entre Margens: Entre as margens dos Aves – não me canso de repetir que a nossa terra deveria mudar de nome e passar a designar-se Vila dos Aves – para acabar de vez com as alusões aos passarinhos e colocar bem evidente a origem do nome da nossa terra – o ano de 2009 também trouxe facto dignos de registo. Vou ser injusto por esquecer algo, mas recordo as obras pré-eleitorais que apesar dos timmings questionáveis, aí estão, e ficam para o futuro; recordo a inauguração da Casa do Sol, embora desconheça se já está a funcionar; recordo a aquisição do Amieiro Galego, embora se desconheça quando se vai pagar tão pesada factura e quando essa aquisição se vai tornar uma mais valia evidente para a vila. No ar fica a incógnita sobre quando avançam os projectos propalados em campanha eleitoral. Porventura vamos ter que esperar por 2013 para os ver implantados. Lembro a título de exemplo a maior lacuna na vila, um parque de lazer digno da grandeza da nossa terra. Há também eventos marcantes que convém registar. Recordo um porque fiz parte integrante do mesmo. O Torneio de Escolinhas das Aves deve ser motivo de orgulho de todos os avenses, tal a grandiosidade e prestígio que já granjeou por esse país fora.

Votos: A fechar os necessários votos de um Santo e Feliz Natal. Coloquemos, nesta data, Jesus Cristo menino no centro das nossas celebrações. Deixemos o Pai Natal nos Centros Comerciais e que em nossas casas o presépio volte a ter o lugar de destaque que é seu por direito. Votos também que o ano 2010, traga a esperança que para muitos concidadãos já foi perdida. Coragem e feliz ano novo.