Inflexões Avenses

quarta-feira, maio 23, 2007

Inflexões (publicadas no dia 23 de Maio)

Jornais e poder: Há jornais ‘seguidistas’ do poder, há jornais que são contra o poder e há jornais independentes. Há dias ouvi esta classificação no debate promovido pelo Entre Margens através do especialista em comunicação, Custódio Oliveira. Recordo a classificação para comentar a proposta do PSD, apresentada em Assembleia Municipal, de corte de relações entre a Câmara e o Jornal de Santo Tirso. Devo esclarecer que não conheço praticamente ninguém do jornal e nem o leio. É apresentado pelo PSD como um órgão de comunicação que serve o actual poder municipal, dando relevo às suas acções e quartando o acesso de outros partidos, nomeadamente, o PSD. Se assim for, não é, de facto, uma conduta correcta e este jornal insere-se na classificação de ‘seguidista’ do poder. No referido debate ouvi que este tipo de jornais são amorfos. Quem os lê já sabe o que vai ler. Assim sendo, não tendo o jornal – estou a falar em tese e não sobre o caso concreto – uma postura de independência não provoca dinamismo e lentamente vai sucumbindo por si só. No entanto, sobre o caso em apreço, não entendo a proposta do PSD. Mesmo que tenha em certa medida razão, pedir a um órgão eleito pelo povo que, de forma deliberada, corte relações com um órgão de imprensa, é algo que, do ponto de vista democrático é, no mínimo, questionável. É também uma posição extremada que nada beneficia o partido em causa. Se houvesse um jornal que só escutasse o PSD e ignorasse o município, os social democratas teriam a mesma postura? Duvido. Há um blog na Internet – a que já fiz referência – que é declaradamente contra o município e, de certa forma, até poderemos entender que prejudica a imagem do concelho (com isto não digo que o blog não tenha legitimidade para existir e que possa desempenhar um importante papel de discussão e até de oposição, à falta de melhor, ao poder municipal). Alguma vez o PSD apoiaria, por exemplo, um boicote ao blog? Duvido.

Desaparecimento: Portugal, o Reino Unido e o mundo têm vivido, nos últimos dias, o drama do desaparecimento da pequena Madeleine. É um drama para a família inenarrável e inimaginável. Não vou questionar a investigação, nem as críticas – a maior parte delas infundadas – da imprensa britânica à nossa Polícia Judiciária. Toda a atenção mediática e até policial em torno deste caso leva-me a uma reflexão, ou inflexão: Em Portugal há outros casos de crianças desaparecidas. Lembro em particular dois casos que conheço bem, o do Rui Pedro, de Lousada, e o do Rui Pereira, de Famalicão. A propósito do caso da Madeleine, ouvi as mães dos agora dois jovens, lamentar o facto de aquando do desaparecimento dos seus filhos, a polícia não ter disponibilizado um terço dos meios que acaba de colocar a investigar este caso e o facto de a imprensa não ter dedicado um terço do tempo de antena que está a dar a este caso. Já ouvi pessoas que estiveram ligadas à polícia reconhecer algumas falhas nestes dois casos e dizer que é com os erros que se aprende. Pena é que tenha sido à custa de dois jovens (e outros mais que continuam desaparecidos) de quem ainda hoje, nada se sabe. A vida daquelas mães é uma vida de sofrimento, uma tortura que, possivelmente, vai continuar até ao resto das suas vidas, simplesmente por não saberem onde está e como está o seu filho.

sexta-feira, maio 04, 2007

Inflexões (a publicar no dia 9 de Maio)

Geminação: A propósito da visita da delegação francesa de Saint-Etienne a Vila das Aves nos últimos dias, tive a oportunidade de acompanhar a visita que fizeram ao Lar Familiar da Tranquilidade. Não sei a postura que mantiveram noutras visitas, mas nesta fiquei sensibilizado com a simplicidade, o carinho, a curiosidade e o interesse em conhecer esta instituição avense, da parte dos franceses. Foi uma visita diferente daquela que normalmente os nossos políticos nos habituam. O autarca francês, o senhor Bonnard, preocupou-se em conhecer o funcionamento do lar e, mais que isso, apesar da dificuldade de comunicação entre o francês e o português, insistiu em falar, até em conversar demoradamente, com os idosos. Quis conhecer a sua história e como estavam. Não mostrou qualquer sinal de pressa. No nosso país é muito raro ver tal cuidado num político. Quando o mostra, normalmente, é em campanha eleitoral, com um batalhão de jornalistas atrás, para captar o momento e o capitalizar em votos. Temos 33 anos de democracia, mas há ainda muito a evoluir.

Nota
: Os outros dois items que serão publicados no jornal são os do post de 20 de Abril, intitulados de "Sócrates" e "Vilarinho".